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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Politicagem irracional

A discussão da Lei da Anistia vem proporcionando boas oportunidades para a conscientização a respeito do passado recente, com ou sem revisionismo, componente inevitável da dinâmica de mobilidade social.No entanto, a conotação emocional, ideológica e, por que não dizer, oportunista, que predominou até aqui nesse debate é prejudicial ao ponto de inviabilizá-lo, cristalizando antagonismos que revivem velhos erros da vida política brasileira e impondo outros, novos, absolutamente infundados.
O grande equívoco reiterado até aqui nessa questão – intencionalmente ou não – é misturar a ruptura institucional de 1964 com o surto de luta armada revolucionária subseqüente. O regime estabelecido (goste-se dele ou não) deu início a um ciclo de reformismo, dito autoritário, que produziu modificações tão amplas e profundas na vida nacional que levaram à sua natural e progressiva extinção, ainda que num tempo considerado excessivo até mesmo por muitos dos que o defenderam. As flores abalaram regimes democráticos e comunistas, levantando barricadas e cantando a paz. Os tiros e bombas também não distinguiram ditaduras de democracias, espalhando morte e destruição indiscriminadamente, segundo a lógica da guerra em curso.
O Brasil não ficaria imune a nada disso. Cultura e uma feliz desimportância geopolítica nos mantiveram ao largo do pior, mas não de tudo. Na resiliência de nossa precariedade institucional, o Estado cumpriu seu dever de manter a lei e a ordem instituídas no apoio da sociedade e nos diplomas legais do regime.

Uma maior ponderação à luz da História, de seus fatos e acontecimentos, e da evolução do pensamento político faria bem à vida nacional. Não é saudável querer vencer de qualquer maneira, misturando anistia com indulto, legitimando assassinatos com a infâmia do colaboracionismo ou insistindo em duvidoso moralismo para se sobrepor a leis e instituições. Se for perseguida em muitos meandros, de forma incansável, mas honesta, poderá falar apenas, por muitas vozes, razões e perspectivas. Talvez tudo que desse caleidoscópio se extraia venha a ser uma consciência da política como a realização do possível para evitar o mal. 

Marina Neto

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