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segunda-feira, 7 de março de 2011

Quixote do Século XXI

Imaginem a seguinte situação: um computador abarrotado de arquivos. Todos eles supostamente importantes e alguns até imprescindíveis para o seu bom funcionamento. A máquina, sem possuir sequer liberdade para escolher o que vai ou não reter, muitas das vezes nem percebe o “plug in” do USB, o download feito através da internet ou até mesmo alguém a digitar e salvar alguma ladainha em sua memória. Pense, também, na quantidade de vírus que esse computador recebe sem se dar conta. Acho que qualquer um alfabetizado digitalmente é capaz de chegar à conclusão de que uma hora vai dar merda, certo? Agora se liga só: Essa máquina é você.
Iixi, o cérebro deu leg? Ok, pense: você assiste TV todos os dias? Não falo de programas jornalísticos, pode ser até a novela mexicana do SBT (ora, atire a primeira pedra quem nunca viu pelo menos alguma cena da saga de Thalía em Marimar-sol-dobairro-e-qualquer-outra-coisa-que-caiba). Tem o hábito de ler? Fuxica orkut-twitter-facebook, site de famosos ou acessa o Le Mond? Procura teses de doutorado na internet? Se faz essas coisas ou não, acredite, ainda assim recebe algum fluxo de informação. Minha pergunta é: isso pode ser um problema?

Lembram-se de um romance espanhol, cujo personagem principal é um louco que insiste em lutar contra moinhos de vento? Se não reconhecem pela descrição, digo-lhes que esse é Dom Quixote, do famoso Miguel de Cervantes. Segundo conta a história, Dom Quixote era dos homens mais letrados da Espanha, porquanto dedicava tempos e mais tempos a livros, em sua maioria, romances de cavalaria escritos na Idade Média, acredito eu. De acordo com interpretações, Dom Quixote era esquizofrênico, por isso delirava; vivia situações que não existiam e acreditava ser um herói. Narrativas à parte, considera-se fato que o personagem ficou louco por excesso de informação, nesse caso, de leitura. Por Deus! De maneira nenhuma estou incentivando a não-leitura, somente acredito na incapacidade que algumas pessoas têm para lidar com excessos, o que pode ser muito problemático, como no caso de Quixote. Ouvi que certa vez ofereceram um livro de literatura a Einstein e ele o devolveu, dizendo não entender nada. Ora! Como pode um dos maiores gênios de nosso tempo dizer que não entendeu qualquer coisa da vida? Inaceitável, né? Bom, há um cara chamado Walter Benjamin, que num ensaio sobre o papel do narrador, aponta a retenção exagerada de informação como destruidora da sabedoria, que, para ele, são as experiências únicas, como as da infância, por exemplo; não aquelas pelas quais passamos cotidianamente. Benjamin cita ainda o surgimento da imprensa como principal produtora informacional, o que pode ser afirmado até os dias atuais.


Marina N. Neto

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